quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A cidade e o mundo


    Não existe temporada melhor para se conhecer Nova York que não seja setembro. Restinho de verão, começo de outono, aquela dúvida sobre o tempo: vai fazer frio ou não? Vai chover? A verdade é que Nova York é imprevisível como um homem e isso, claro, aprendi assistindo Sex and the City.
    Este post, no entanto, não será apenas mais uma declaração de amor à cidade. Comecei a pensar em escrevê-lo durante minha caminhada para casa, com a Primeira Avenida fechada por causa do início dos trabalhos da Assembleia Geral 2009, que começa pra valer amanhã.
    Andando pela rua, percebi que a cidade e a temporada têm tudo que eu sempre quis reunir em uma viagem: pessoas cosmopolitas e cosmopolitans, um trabalho que nunca vou esquecer e meu primeiro sobretudo. A ideia simples e humilde de estar na mesma cidade que o presidente Barack Obama, melhor, de trabalhar no mesmo prédio onde ele faz mais um de seus ótimos discursos. A oportunidade de colocar em prática meus micos de jornalista em início de carreira. Nova York traduz o espírito idealizado da América: um continente de oportunidades.
    Conforme caminho pela calçada, vendo o trânsito seguir caótico, não consigo parar de pensar no que Che Guevara e a princesa Jasmin têm em comum: Nenhum deles gostaria de voltar para o lugar de onde partiram. E desde já aviso que não precisa ser um lugar físico, até porque quero sim voltar para casa, ou melhor, para as casas que eu deixei em duas cidades do Rio de Janeiro. Dito isso, continuo com minha associação improvável.
    Uma das frases mais famosas de Che diz "Retroceder jamás!" e um dos trechos da música tema de Aladin cantado pela princesa diz "I can't go back to where I used to be." Se um guerrilheiro e uma personagem de desenho animado têm a mesma opinião sobre a ideia de andar para trás é porque, talvez, ela seja realmente uma preocupação de interesse coletivo.
    Eu voltarei para casa no fim do outono, mas meu lugar será outro, porque já não sou mais a mesma.

domingo, 20 de setembro de 2009

I was a dreamer, but now I'm John


    Engraçado como algumas músicas, frases ou lembranças acabam ilustrando nossos dias por acaso. Hoje, a trilha sonora foi "God", uma das primeiras canções de John Lennon após o fim dos Beatles.
    Não que ela tenha tocado de verdade, a não ser na minha cabeça. O mesmo verso repetindo o tempo todo: "I was a dreamer, but now I'm John". O suficiente para me fazer pensar sobre aquelas vezes em que deixamos de ser sonhadores para nos tornarmos apenas nós mesmos, ou aquilo que sempre fomos.
    Para isso acontecer, às vezes, é preciso acabar com a banda. "God" também é a música do verso "the dream is over". Mas antes que possa parecer, este não é um post triste, sobre o fim. Trata-se de um post sobre o começo daquilo que sempre se quis fazer ou ter.
    E não adianta, nenhuma ruptura vem tranquilamente. Mesmo que ela seja para melhor. Talvez não esteja preparada para falar sobre isso agora, talvez me falte inspiração suficiente para escrever sobre isso. Mas certamente, não me faltam exemplos.
    Nova York é uma cidade impressionante. O mundo inteiro parece se resumir aqui. No entanto, no meio de tanta gente, de tantas culturas e de convivência entre as diferenças, não parece existir lugar no mundo onde as pessoas se sintam mais sozinhas.
    Hoje, após um domingo agradável, minha fiel amiga Louise e eu saímos de casa em busca de chocolates para aquecer o frio. Se logo na rua seguinte existe um Starbucks, não é preciso muita criatividade para saber onde ir.
    E lá fomos nós. Chocolate gelado (herança de um país tropical) e brownie para mim. Nas mesas ao lado, pessoas sozinhas e seus laptops ou headfones engraçados. Apenas nós duas fazíamos companhia uma a outra. Nova York também é uma cidade de pessoas solitárias. De pessoas que preferem descer de seus apartamentos em uma noite fria para usar a internet de um Café.
    Digo mais. Nova York é uma cidade de pessoas que, como eu, deixaram os lugares que mais amam em busca de uma experiência de vida, ou de sobrevivência. Viver um sonho não é fácil.
    E lá no Starbucks, o que tocava? Um CD dos Beatles, não me lembro qual agora. Mais uma vez o acaso surpreende, ou seria o destino? Ainda tenho dúvidas sobre qual deles realmente explica os acontecimentos.
    Talvez o sonho não tenha acabado. Talvez seja apenas preciso mais alguém para sonhá-lo junto com a gente. Algumas maçãs são apenas grandes demais para se devorar sozinho.

sábado, 12 de setembro de 2009

La gran manzana

 

    Depois de quase dois anos alugando os episódios de Sex and the City, uma vida inteira cantando Start Spreading the News, intercalada com aquela parte de "Shes's living la vida loca" (Woke up in New York City), aqui me encontro, na cidade que nunca dorme, aquela da estátua da liberdade. A maçã mais gostosa do mundo.
    Parecia que o avião até já estava preparado para a minha chegada: a principal revista do voo, que era para Miami, trazia uma matéria sobre "Lan gran manzana", justo na edição do mês que me trouxe para cá. Foi quando percebi que gostei muito do termo em espanhol. Big Apple é muito óbvio e Grande Maçã, bom, simplesmente não fica legal com cedilha e tudo mais. Além disso, fala-se muito espanhol em Nova York, mas eu chego lá.
    Por falar em chegada, tive a mais novaiorquina possível. Saí do JFK procurando um táxi daqueles amarelinhos para me levar à casa de uma amiga que vive em Park Slope, no Brooklyn. O motorista que me levou erá húngaro e ficou me perguntando sobre as diferenças entre o português e o espanhol. Demos mil voltas no Brooklyn até encontrar a casa dela. Tudo porque os motoristas de Manhattan parecem não saber andar muito bem no bairro, que é uma graça.
    À noite, tive minha estreia pelos metrôs da cidade. Fomos ao Soho para comer guacamoles e tacos em um genuíno restaurante mexicano. Fiquei triste ao saber que não gosto da verdadeira comida mexicana, mas o que se pode fazer? Gosto não se discute.
    Acordei no dia seguinte e resolvi caminhar, conhecer o bairro e atravessar a Brooklyn Bridge a pé. As casas de tijolo bem marrom, as escadas de incêndio, as pessoas dizendo "Morning!" o tempo todo. Do outro lado da ponte, Downtown e uma parada no Starbucks, porque ninguém é de ferro.
    E como diz Carrie Bradshaw, "em Nova York todo mundo está procurando por um namorado, um emprego ou um apartamento". O namorado eu tenho, o emprego é na verdade um estágio na ONU, mas o apartamento... esse sim é o grande desafio!
    Minha amiga Louise chegou hoje e, como vamos morar juntas, nossa saga começa! Agora mesmo, estamos no lounge do albergue, o Jazz on the Park, no West Side, com nosso computadores ligados em busca do "real state heaven" para universitários.
    Antes de falar sobre isso, preciso mencionar o motorista que me trouxe aqui hoje. O Brooklyn não tem táxis amarelos, mas tem empresas de transporte executivo. É só ligar que um motorista aparece na sua porta. Foi assim que conheci o Juan, do Equador.
    Muito, muito gente boa. Ensinei portugês e aprendi espanhol. Ele ama o Pelé e o considera melhor que o Maradona, um cara sensato. Há 14 anos em Nova York, Juan disse que não perde uma Libertadores e que se amarra em assistir os brasileiros "bailando com la pelota". Ele até sabe que o Fluminense não anda muito bem das pernas e pincipalmente: sabe que a capital do Brasil é Brasília e não o Rio de Janeiro.
    Voltando a uma das procuras mais difíceis da cidade, Louise e eu visitamos um apartamento que oferecia um quarto para alugar. Caro e pouco espaço. A busca continua amanhã.
    Sobre a comida: Quem me conhece sabe o quanto aprecio uma boa refeição. Apesar disso, apenas no primeiro dia consegui comer uma comidinha gostosa: salada com salmão. Nos dois dias seguintes, tive poucas refeições satisfatórias. E tudo porque ainda estou um pouco confusa com a oferta gastronômica da cidade: comida étnica ou junk food. Não se pode comer salmão ou steak todo dia...
   Outra coisa que ficou muito clara para mim foi a saudade, intraduzível em outros idiomas. Penso nos meus pais, na minha irmã, no meu namorado e em todos os meus amigos o tempo todo. Saudade que não acaba. E quando eu tenho saudade ou fico triste o que eu canto? "Ai que saudade eu tenho da Bahia!" Da minha Bahia...
    Tivemos um dia frio e chuvoso hoje, o que nos fez colocar uma rícula capa de chuva amarela para sair na rua. Não basta ser turista, é preciso pagar mico. Com o meu pago, pretendo passar os próximos dois meses sem correr esse risco.
    Ah! Outra coisa que preciso mencionar é o cartaz da nova temporada de House, que estreia no dia 21 de setembro, na Fox. Colado quase na porta, só pra me lembrar de assistir.Verei!

sábado, 15 de agosto de 2009

Sobre estar em casa


     Eu adoro morar com meus pais. Mas não, eu não moro mais com meus pais, já há alguns anos.
    "Engraçado, não é, como a verdade soa diferente...". Penny Lane, a personagem que quase rendeu um Oscar de melhor atriz coadjuvante para Kate Hudson, antes dela entrar nessa onda de comédia romântica. Adoro esse filme, Quase Famosos. E a parte que a banda inteira canta Tiny Dancer no ônibus?
    É que comecei a pensar sobre meus pais, sobre o quanto eu os amo. O Festival de Woodstock também faz aniversário. São 40 velinhas? E porque estou ouvindo My Generation do The Who. E porque ganhei um laptop e porque levei um susto quando vi meu histório acadêmico completo. Porque eu tenho um canudinho. Porque eu vou passar dois meses morando em uma Grande Maçã. O que eu sempre quis, sempre.
    Esta vida é muito louca. Louca mesmo. E de onde vem essa sensação dupla de "quero ficar, mas só se me deixarem ir embora"? E de sumir de repente? E de aparecer de novo com outro corte de cabelo?
    No mesmo filme, o menino que quer ser jornalista diz a Penny: "Preciso voltar para casa". Ela responde: "Você está em casa".
    No final das contas, até meus pais moram comigo, porque eles moram no meu coração. Porque eu não durmo sem falar com eles...
    E como diz a minha mãe, só para me agradar: "Todo mundo no meio sabe que os melhores jornalistas vieram do interior".

# Foto especial: Capa do disco de Woodstock.