terça-feira, 10 de abril de 2012

'Cause there's no nicer witch than you'

Um mulherengo, um par de olhos azuis feito para o pecado. Aba de chapéu abaixada num bar de hotel de Los Angeles ou de Nova York, uma mulher solitária e linda morde a isca. Deve ser anos 50... Não é a primeira vez que construo uma imagem como essa na cabeça desde que li  "Frank Sinatra has a cold", um delicisoso perfil escrito por Gay Talese na "Esquire" de abril de 1966.

Mas a verdade é que, quando penso no Frank, íntimo assim, vejo com muito mais frequência um homem que cantava sobre a conquista da mesma mulher over and over again, ainda que a vida dele tenha mostrado o contrário. A música mais recente a "chicletear" na cabeça foi sugestão da minha good friend Sam, "Witchcraft". Basicamente, ele descreve as "bruxarias" que uma tal mulher vem fazendo para mantê-lo apaixonado, tão perigosas quanto aquele carinho no cabelo que vai descendo até a nuca. E aí o ponto alto da letra: "Cause there's no nicer witch than you". Sério! Se alguém me diz que não existe bruxa mais legal do que eu, já me apaixonaria pela criatividade. Esqueça o "você é linda, mais que demais" (que também tem o seu lugar). O negócio aqui é o feitiço.

Outro clássico, esse eu que eu já gostava na voz do fofo do Sammy Davis Jr, é "The lady is a tramp", sobre uma mulher que não é lá um exemplo de bom comportamento, mesmo assim adorável. Sem papas na língua, nenhum dinheiro no bolso, muita coisa para fazer e pouco tempo. Nós todas de vinte e poucos anos. E sim, qual mulher meio mal humorada da vida também não odeia a Califórnia? E qual homem apaixonado não acharia esse despeito uma fofura?

She gets too hungry for dinner at eight

She likes the theater and never comes late
She never bothers with people she'd hate
That's why the lady is a tramp

Doesn't like crap games with barons or earls
Won't go to Harlem in ermine and pearls
Won't dish the dirt with the rest of the girls
That's why the lady is a tramp

She likes the free, fresh wind in her hair
Life without care
She's broke, and it's *"oke"*

Hates California, it's cold and it's damp
That's why the lady is a tramp
 
Tem também aquela música que a Nicole Kidman e o Robbie Williams quase arruinaram na minha memória, mas ufa, consegui superar: "Something stupid", que o Frank canta junto com a filha, Nancy Sinatra. Quem aí não acha que já disse muita coisa certa na hora errada e ficou com medo de estragar tudo?

I know I stand in line,
Until you think you have the time
To spend an evening with me

And if we go some place to dance
I know that there's a chance
You won't be leaving with me

And afterwards we drop into a quiet little place
And have a drink or two
And then I go and spoil it all
By saying something stupid
Like: "I love you"


E eu vou chamar minha amiga Sam de volta para a conversa porque desde que mostrei a próxima música para ela e disse que seria de capaz de dançá-la durante todo o meu "grande dia", a Sam me veio com uma frase do "Casamento do meu melhor amigo" quando o George fala: "Maybe there won't be marriage, maybe there won't be sex, but by God there'll be dancing!" ("Talvez não haja casamento, talvez não tenha sexo, mas por Deus, haverá dança!"). Né?
 



 


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Mid-twenties, aqui estou eu + Girls x Sex & the City

Elenco de "Girls", em cena na nova série da HBO. Meninas de 20 wanabe Sex & the City
Podem me chamar de Yankee, digam que eu vendi a minha alma para os Estados Unidos, que eu imperializo o português com um vocabulário de fora. Só porque prefiro usar um termo inglês para definir essa nova fase da vida, a que começa nos 25 e vai até os 27, mais ou menos. Curtinha, ou melhor, "mid". Aliás, acho que nem teria como definir esse momento na nossa língua de qualquer jeito. Ficaria estranho. A partir de agora, só não me venham falar nos tais "20 e poucos" que ficaram para trás, como se fosse a melhor época da vida, quando tudo era mais fácil, etc e etc. E no futuro, nunca digam "20 e muitos".

Obsessão que as pessoas têm com os 20, como se tudo tivesse que ser feito nessa década e em três etapas bem separadinhas: começo, meio e fim. Ficar mais velho já não é fácil e a gente ainda consegue tornar desagradável adicionando ao processo expectativas supervalorizadas e opiniões alheias sobre a nossa vida. Pra quê?

Outro dia estávamos no aniversário de 25 de uma amiga quando uma do grupo soltou: "Minha dermatologista já até me passou um creme contra as rugas". Fiquei chocada e não escondi. Que médicas são essas, meu Deus? Só porque existe "Renew 25" a gente pode sair por aí emplastando a cara? Continuarei à base de hidratante, protetor solar e bepantol até a minha hora chegar. Engraçado como a minha geração não tem pudores em adiar o amadurecimento e a total independência financeira, mas antecipa com facilidade a velhice. Queremos fazer tudo, em pouco tempo, agora e ainda sermos eternamente jovens, charmosamente despreocupados. Não é à toa que não se consegue mais marcar horário com um terapeuta com menos de um mês de antecedência. Estamos todos na lista de espera.

Todas essas reflexões bobas que eu ando tendo acabaram sendo permeadas pelo lançamento de uma nova série de TV, item fundamental na formação das referências de uma galerinha que ficou adulta assistindo a "Friends" e "Sex & the City". A bola da vez é "Girls", da HBO, com estreia prevista para abril nos EUA. O roteiro bebe na fonte de SATC, mas é mais crítico e centrado na vida de três mulheres na casa dos 20, tentando fazer a equação dar certo: amor + carreira + realização pessoal = o que mesmo? A verdade é que ninguém encontra o pote de ouro se não for até o fim do arco-íris. Ok, boring. Voltando à série...


"Girls", claro, se passa em Nova York, a terra prometida. O roteiro é da Lena Dunham, que também dá vida à personagem Hannah, uma aspirante escritora (leia-se, wanabe Carrie Bradshaw) que se vê às voltas com a necessidade de se bancar sozinha depois que os pais cortam a ajuda financeira. A própria Lena, que pega carona no sucesso inédito das mulheres bem sucedidas das comédias americanas,  disse que sua produção é uma homenagem agridoce aos anos de CB, Samantha, Miranda e Charlotte causando pela Big Apple. Só que, dessa vez, as meninas são mais jovens, mais atrapalhadas, aprendizes, afinal. Na casa dos 20, sabe como é.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

'Just kids' ou meu livro de verão


Chorei feito adulta dramática lendo o final de "Só garotos", da performista Patti Smith. Acho que foi por causa de tudo. Uma história de amor, amizade e arte com a Nova York dos anos 60 e 70 de cenário. E que cenário... Senti profundamente não ter feito um roteiro alternativo enquanto estive lá. Já vale a minha próxima viagem.

No livro, Patti conta como chegou a Manhattan, sozinha, sem lenço e sem documento até conhecer o igualmente perdido Robert Mapplethorpe. Os dois se tornaram amantes, mas sobretudo, companheiros de uma vida inteira devotada à arte. Depois de anos vivendo em apartamentos pequenos, sujos e apertados, incluindo um dos quartos do Chelsea Hotel, o casal eventualmente ficaria famoso: Patti à frente de uma banda de rock, com suas poesias e desenhos abstratos, e Robert, com uma câmera na mão. Quando tudo isso aconteceu, eles já não viviam mais um romance. E não sei, também não ficou claro se o que tiveram foi romance. Era amor, e pronto.

A duras penas, Robert se descobriria homossexual. Mas vou parar por aqui, caso alguém aí queira ler o livro. Tudo o que eu disse até agora pode ser encontrado nas sinopses, então não entreguei nada...

Patti prometera a Robert escrever as memórias dos dois desde quando tudo começou. Janis Joplin, Jimi Hendrix, Bob Dylan e Andy Wahrol estavam todos lá. Mas não foram os personagens que mais me impressionaram. Foi todo o resto, começando pelo título. Enquanto passeavam por Coney Island (a foto do post é um registro desse dia e também a capa do livro), uma mulher disse ao marido: "Oh, tire uma foto deles, acho que são artistas." No que o homem respondeu: "Ora, vamos logo, são só garotos."
Finalmente entendo por que resolvi escrever este texto, já que normalmente não falo de livros no blog. Também me sinto como só uma garota tentando ser artista. Espero que um dia aconteça.

Tenho certeza de que o verão é a melhor época do ano para se ler um livro. Tudo me parece muito lento em janeiro, até que as coisas finalmente engrenem. É nessa época que me sinto mais capaz de absorver ideias felizes. E como disse a mãe da Patti, compreensiva diante das complexidades da filha, "o que você faz no primeiro dia do ano é o que você vai fazer pelo resto". Se isso for verdade, passarei 2012 viajando. E isso há de ser bom. Há de render boas histórias.